Estudo: Inquérito Nacional Sobre Comportamentos Aditivos em Meio Prisional 2023
Divulgamos hoje, publicamente o Relatório Preliminar do Inquérito Nacional Sobre Comportamentos Aditivos em Meio Prisional 2023. Para uma população de 11.705 reclusos foram definidos como selecionáveis para inquirição 3.171, o que corresponde a 27,1% da população alvo.
Este inquérito visa conhecer melhor e analisar tendências
sobre os comportamentos aditivos e dependências em ambiente prisional e é
promovido pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências
(ICAD, I.P.), entidade tutelada pelo Ministério da Saúde, em colaboração com a
Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), do Ministério da
Justiça. Tem por objetivos: estimar a prevalência dos diversos comportamentos
aditivos (substâncias ilícitas, tabaco, álcool e jogo a dinheiro); identificar
o tipo de crimes relativos à reclusão atual e qual a sua associação com as
substâncias ilícitas, álcool e jogo a dinheiro; produzir estatísticas e
informação comparáveis com a de outros países, nomeadamente no âmbito dos
indicadores promovidos pela European Union Drugs Agency (EUDA) (drogas
ilícitas) e pela OMS (álcool); e caracterizar os diversos tipos de consumidores
de substâncias ilícitas e álcool e de padrões de consumo: tipo de substâncias
utilizadas, frequência, continuidade/descontinuidade do seu uso, formas de
administração e tipos de policonsumos existentes.
Resultados
Os dados revelam que a evolução do consumo de substâncias
ilícitas na população prisional apresenta em 2023 uma tendência de
decréscimo face ao pico verificado em 2014. Em 2023, 63,4% dos reclusos
inquiridos indicaram já ter consumido substâncias ilícitas em algum momento da
vida, sendo este valor similar ao verificado em 2007 (63,6%) e abaixo dos 69,1%
que foi obtido no estudo de 2014.
A análise da evolução da prevalência de consumos alguma
vez na vida, por substância revela que a canábis continua a ser a droga
mais consumida, (51,4%), mas com tendência decrescente (-4,1pp face
a 2014). A prevalência do consumo alguma vez na vida é também muito elevada em
substâncias como a Cocaína (branca): 33,6%, Cocaína (crack/base): 25,7%,
Heroína: 21,3% e Ecstasy: 20,6%. No que concerne ao consumo de substâncias
ilícitas dentro da prisão, mantém-se a prevalência de consumo
registada em anos anteriores.
No que toca ao consumo de tabaco dentro da prisão,
dos inquiridos que declararam ter efetuado esse consumo em qualquer prisão
(77,2%), 44,1% consumiu esta substância durante o último mês na atual
reclusão. Ao analisar a frequência do consumo de tabaco neste horizonte
temporal, é possível constatar que em 2023, 65,5% dos inquiridos que declara
ter consumido tabaco dentro da prisão fê-lo diariamente, valor
consideravelmente inferior ao registado em 2014 (92,8%).
Relativamente ao consumo de bebidas alcoólicas dentro
da prisão regista-se uma proporção de consumo de 31,4% do total de inquiridos, valor
bastante superior ao observado em 2014 (17,9%). A mesma tendência crescente
face a 2014 regista-se no consumo de bebidas alcoólicas nos últimos 12 meses e
nos últimos 30 dias na reclusão atual, com proporções declaradas de 20,8% e
19,5%, respetivamente. O aumento (+13,5pp) do consumo de álcool dentro da
prisão foi superior ao observado para as temporalidades mais recentes do último
ano (+8,5pp) e último mês (+8,6pp) na reclusão atual, com crescimentos na mesma
ordem de grandeza.
Quanto a práticas de jogo a dinheiro na prisão no último
ano, a esmagadora maioria dos inquiridos (91,9%) declara não ter jogado
a dinheiro, ou em troca de outros bens/serviços, na prisão no último ano.
Em termos futuros, é referida a necessidade de continuar
a desenvolver e implementar programas eficazes de prevenção e tratamento de
dependências dentro das prisões e o desenvolvimento de mais esforços para
apoiar a reintegração social dos reclusos.
A recolha contínua de dados e a realização de estudos
periódicos são considerados essenciais para monitorizar as tendências de
consumo de drogas nas prisões e avaliar o impacto das intervenções
implementadas. É, igualmente, realçada a importância da comparação dos dados
nacionais com estudos internacionais, no que a insights valiosos para melhorar
as políticas e práticas de saúde pública e segurança prisional, esta pode
proporcionar.
Acesso ao estudo AQUI