Reportagem: 39 º aniversário CT Restelo
“Nada é – Nada permanece – Nada controlas – TUDO DECIDES!”
O dia 22 de janeiro apresentou-se chuvoso em Lisboa. A tarde
levou-nos, ainda assim, até à zona ocidental de Lisboa para a comemoração do
39º aniversário da reabertura do Comunidade Terapêutica do Restelo.
Fomos acolhidos pela coordenadora, Maria Cristina Mesquita,
que nos levou a conhecer os “cantos à sua casa”. Na “sala dos Testemunhos, no
momento de alta” vemos textos, frases (três das quais integram este texto) e
fotos, que contêm depoimentos de residentes que, de uma forma simples, aqui
deixam um pouco de si . Assistimos a momentos tocantes quando alguns
ex-residentes procuram o seu próprio testemunho.
Este momento de comemoração, incluiu duas intervenções
feitas pelo presidente do Conselho Diretivo do ICAD, I.P. e pela coordenadora
desta CT, acompanhada pela sua equipa. Estiveram também presentes, entre
outros, a coordenadora da Unidade de Referência e Cuidados Integrados do ICAD,
I.P., Kerstin Hoffmeister, residentes atuais e ex-residentes.
João Goulão começou por elogiar o esforço de todos,
abordando, de seguida, as alterações provocadas pelo nascimento do ICAD.
Maria Cristina Mesquita referiu-se à comunidade
terapêutica, como um sítio de: oportunidade, compromisso, mudança,
decisão, interajuda, esperança, tolerância, paz, responsabilidade e dignidade.
Apesar das dificuldades, manifestou-se confiante no ultrapassar deste momento.
Findas as intervenções formais, e de forma espontânea,
residentes e ex-residentes manifestaram-se sobre a realidade da comunidade
terapêutica, nomeadamente, quanto ao seu futuro. Consideraram a CT do Restelo
um pilar das suas vidas, pelas transformações positivas acontecidas nos seus
percursos pessoais, que a mesma possibilitou.
“Procura tempo para dar. Um dia é demasiado curto para
ser egoísta”
ENTREVISTA
No final falámos com Maria Cristina Mesquita, coordenadora
da CT do Restelo, a propósito deste aniversário:
Quando estamos a comemorar 39 anos, estamos a comemorar o
quê?
Nós estamos a comemorar 39 anos de reabertura, porque o
serviço existe desde 1977. Só que em 84 fechou e reabriu em 86, e daí é a nossa
celebração de hoje. Estamos a celebrar a vida, a adaptação a novas dependências
e a construção de projetos terapêuticos adaptados. A idade, que aumentou muito,
as novas dependências, dependências sem substâncias. Estamos a celebrar toda
esta variedade e toda esta abrangência que a Comunidade Terapêutica do Restelo
procura ter, que é ter um programa geral e, face cada pedido de ajuda, poder
reescrever um projeto terapêutico para ela. Neste momento de celebração, foi
significativo os testemunhos de ex-residentes que, de alguma forma,
caracterizam o trabalho aqui feito. Sim, realmente o utente que vem para a
comunidade terapêutica transforma-se num residente. E quando eles vêm, passam o
testemunho, passam uma mensagem aos que estão cá, isto é induzir esperança,
porque se uns conseguiram, porquê é que os outros não vão conseguir? E esta é a
importância da nossa casa.
No momento presente, como é que podemos caracterizar a CT do
Restelo?
A comunidade terapêutica é o terreno de preferência para o
empoderar, cuidar e proteger. Porque, realmente, através de todos os nossos
valores, da nossa filosofia, empoderamos os nossos residentes com capacidade de
ter voz, competências, o cuidar e o proteger da sua própria saúde e a de
outros, e por isso nós somos, digamos, a transição prática de todos esses
vetores que são importantes no panorama geral do serviço. No entanto, o que se
passa neste momento é que a equipa técnica está muito reduzida por aposentações
e, apesar de ser algo que nós temos vindo há muitos anos a chamar a atenção,
não tem sido possível mobilizar e recrutar novos técnicos.
E relativamente a desafios futuros?
Desafios futuros é mais colegas, mais colegas, mais colegas.
A comunidade é um projeto terapêutico com muitas vertentes. Temos um leque
imenso de pessoas com quem trabalhamos, direta e indiretamente. Por isso,
precisamos de mais colegas. Porque trabalhar na comunidade implica um período
de formação, como todos nós tivemos, e até para poder passar o nosso saber. Eu
quando cheguei há 42 anos, houve alguém que me ensinou e orientou. E, agora,
não tenho a quem passar.
“Esta conquista é a prova de que a determinação supera
qualquer dificuldade. A caminhada foi dura e difícil, nas no final tudo vale a
pena”.