Relatórios sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências e de Álcool 2023
Já se encontram disponíveis os Relatórios Nacionais referentes a 2023, da Situação do País em matéria de Drogas e Toxicodependências e em matéria de Álcool.
Portugal continua a surgir como um dos países europeus com menores prevalências de consumo recente de canábis, de cocaína e de ecstasy, as três substâncias ilícitas com maiores prevalências de consumo recente em Portugal.
Entre 2017 e 2022 houve descidas relevantes do consumo
recente e atual de qualquer droga, devido à diminuição do consumo de canábis,
mantendo-se o consumo recente e atual das outras substâncias, de um modo geral,
estável na população total e, estável ou com ligeiras subidas nos 15-34 anos.
Face a estas descidas no consumo de canábis, seria expectável a diminuição das
prevalências dos padrões de consumo abusivo e dependência na população. No
entanto, mantiveram-se idênticas as prevalências de consumo de risco moderado e
de risco elevado de canábis na população total, aumentando a de risco elevado
entre os mais jovens, e em particular nos 15-24 anos (0,2%, 0,7% e 1,3%, em
2012, 2017 e 2022). Por sua vez, houve um agravamento do consumo de risco
elevado e da dependência entre os consumidores recentes de canábis, tanto nos
15-74 anos como nos 15-34 anos.
Nos últimos três anos aumentou a experiência de problemas
relacionados com o consumo de drogas, entre os jovens de 18 anos. Os consumos
continuam a ser mais expressivos nos rapazes, existindo também algumas
diferenças regionais, como é evidenciado no consumo recente de qualquer droga
(entre 29% no Algarve e 20% na R. A. da Madeira).
Nos registos do INMLCF, IP, em 2023, dos 387 óbitos com a
presença de substâncias ilícitas e informação da causa de morte, 80 (21%) foram
overdoses. Houve um aumento de overdoses face a 2022 (+16%), sendo os valores
dos últimos três anos os mais altos desde 2009. Em 2023 é de destacar a
presença de cocaína (65%), de opiáceos (36%) e de metadona (36%), sendo a
cocaína a mais prevalente nas overdoses dos últimos três anos e, com um aumento
contínuo desde 2017.
Em 2023 estiveram em tratamento 24 246 utentes com problemas
relacionados com o uso de drogas no ambulatório da rede pública especializada.
Pelo terceiro ano consecutivo houve um ligeiro aumento (+0,3%) dos utentes em
tratamento no ambulatório, após as descidas entre 2017 e 2020, estando ainda
aquém dos valores pré-pandemia. Embora menos relevante do que as subidas nos
dois anos anteriores, aumentou ligeiramente o número dos que iniciaram
tratamento (+0,7%), com os valores dos últimos dois anos a serem os mais
elevados desde 2015 e a reforçarem a tendência de acréscimo entre 2017-19.
O número de utentes internados por problemas relacionados
com o uso de drogas aumentou 19% face a 2022, em Unidades de Desabituação, e 9%
em Comunidades Terapêuticas. Apesar da heroína continuar a ser a droga
principal mais prevalente nos utentes em tratamento, é de notar, nos últimos
dois anos, o relevante aumento de utentes a iniciarem tratamento devido ao
consumo de cocaína, atingindo em 2023 os valores mais altos dos últimos dez
anos.
Em 2023 foram abertos 10 614 processos de contraordenação
por consumo de drogas relativos às ocorrências no ano. Houve um aumento de +29%
face a 2022, representando o número mais alto desde 2018, embora ainda aquém do
valor de 2017 (ano com o valor mais alto desde 2001). Tal como nos oito anos
anteriores, a GNR foi quem remeteu mais ocorrências para as CDT.
Em Portugal, as tendências recentes expressas através de
diversos indicadores no domínio da oferta de drogas ilícitas enquadram-se, de
um modo geral, nas tendências europeias. Em relação às drogas tradicionalmente
mais apreendidas no país, uma vez mais o haxixe foi a substância com o maior
número de apreensões, seguida da cocaína, heroína, liamba e ecstasy.
Os estudos evidenciam que a canábis continua a ser a droga
ilícita percecionada como de maior acessibilidade, refletindo as prevalências
de consumo na população portuguesa. Entre 2017 e 2022 houve evoluções díspares
consoante as substâncias, sendo de destacar a evolução positiva (no sentido da
perceção de uma menor facilidade de acesso) no que toca à heroína e, as
evoluções negativas em relação à canábis e alucinogénios.
Relativamente ao álcool, e apesar do aumento da abstinência
face a 2017, não houve melhorias na maioria dos indicadores. Verificaram-se
agravamentos ao nível das idades de início dos consumos, das prevalências do
consumo recente e atual, das de embriaguez severa e dos consumos de risco
elevado/nocivo e da dependência (reforçando a tendência de aumento da
dependência desde 2012, que quase quadruplicou em dez anos).
Entre os jovens de 18 anos houve uma descida do consumo
recente e atual em 2023, embora os valores da embriaguez severa nos
últimos dois anos tenham sido os mais altos desde 2015. A experiência recente
de problemas relacionados com o consumo de álcool sofreu, nos últimos três
anos, um aumento relevante face aos anos pré-pandemia. A evolução tem sido
menos positiva no grupo feminino.
O número dos que iniciaram tratamento por problemas
relacionados com o uso de álcool atingiu nos últimos dois anos os valores mais
elevados dos últimos dez anos.
Em 2023 registou-se uma diminuição das mortes por
intoxicação alcoólica, de vítimas mortais de acidentes de viação que estavam
sob a influência do álcool, e nos internamentos hospitalares com diagnóstico
principal atribuível ao consumo de álcool.
No que toca ao volume de vendas de bebidas alcoólicas, após
as descidas em 2020 houve uma recuperação posterior, com os valores de 2022 e
2023 a ultrapassarem já os níveis pré-pandémicos em quase todos os segmentos de
bebidas alcoólicas. Segundo a AT, em 2023 venderam-se em Portugal Continental
cerca de 612,5 milhões de litros de cerveja, 42,0 milhões de litros de outras
bebidas fermentadas, 17,3 milhões de litros de produtos intermédios e 10,0
milhões de litros de bebidas espirituosas.
Estes relatórios são fruto do trabalho do ICAD, I.P., no
âmbito da execução do Plano Ação para a Redução dos Comportamentos Aditivos e
Dependências, em estreita colaboração com os diversos serviços-fonte nacionais
que providenciam informação sobre as suas áreas específicas, abordando não só o
problema do ponto de vista da Procura como da Oferta. Estes documentos
permitem-nos conhecer a situação do país, mas igualmente avaliar e monitorizar
a evolução das metas definidas no Plano Nacional para a Redução dos Comportamentos
Aditivos e Dependências, numa lógica de Saúde em todas as políticas.
Consulte os relatórios, em Relatórios anuais