Reportagem - CRI do Alentejo Central – 'Riscos nas Escolas! Ou Escolas em Risco?"
Alentejo em peso, no dia 9 de abril, em Évora, no seminário “Riscos nas escolas! ou Escolas em Risco? - Os comportamentos aditivos dos alunos do Alentejo”, organizado pelo CRI do Alentejo Central. Objetivo: apresentação dos dados do Observatório Regional dos Consumos que, abrangendo 18.000 alunos de toda a região alentejana, permitiu identificar territórios prioritários, problemáticas e parceiros estratégicos.
Quem são e quantos são os alunos que protagonizam os CAD na
região? A que níveis de risco estão expostos os nossos alunos? Que estratégias
de mitigação e prevenção? Estas foram algumas das questões para as quais se
procurou encontrar respostas.
No evento foram geradas diversas dinâmicas de envolvimento
dos 300 participantes, que deixaram contributos quanto a propostas de
intervenção, permitindo a este Centro de Respostas Integradas obter um
repositório de sugestões e propostas que reforçarão a estratégia regional de
intervenção.
O presidente do Conselho Diretivo do ICAD, I.P., João
Goulão, que integrou a mesa de abertura, referiu a enorme importância da
produção de evidência científica para se garantir uma cada vez melhor atuação
onde se tem de intervir. Destacou as parcerias e o trabalho conjunto de
várias instituições neste observatório, que considerou um exemplo a seguir por
outras regiões do país. Concluiu a intervenção, manifestando preocupação pelo
atual contexto mundial que traz mais dificuldades para a vida das pessoas e para
o trabalho, que considerou fundamental, de criação de atividades alternativas e
atrativas que contribuirão para melhorar os números relativos aos CAD.
No segundo painel, intitulado “Promoção e prevenção dos CAD
nas Escolas”, o coordenador da Unidade de Prevenção e Promoção da Saúde do
ICAD, I.P., Joaquim Fonseca, abordou a promoção da saúde e a prevenção dos
Comportamentos Aditivos e Dependências em contexto escolar. Ao longo da
intervenção percorreu três dimensões: estratégica, conceptual e prática, tendo
como mote um provérbio africano: “Para educar uma criança é preciso a aldeia
toda”. Enquadramento estratégico, estratégia de educação para a cidadania na
escola, planeamento local, programa PORI, intervenção em CAD no âmbito da
política portuguesa, prevenção, fatores de risco, e programas preventivos,
entre os quais “Eu e os Outros”, foram alguns dos itens que desenvolveu.
Tendo em vista o pensar, o planear e o executar futuros, o
evento terminou com dois desafios nas últimas palavras deixadas por Paulo
Jesus, coordenador deste CRI:
“Não há certezas, porque entre a decisão e a ação vai um
espaço muito grande”
“Decisão sem ação, é mera opinião”.
ENTREVISTA
No final falámos com Ana Luísa Charneca, psicóloga, do
Centro de Respostas Integradas do Alentejo Central, que apresentou os dados do
estudo.
Qual o contexto em que este estudo foi realizado?
Este estudo está a ser realizado desde que começaram a ser
passados os inquéritos em 2013, mas os dados que nós temos são entre 2016 e o
presente ano letivo. Os dados são referentes a todo o Alentejo, no entanto é
possível fazer análises por região do Alentejo e também por concelho e até por
escola a escola. Neste momento temos cerca de 18 mil inquéritos, só este ano
foram respondidos mais de 5200.
Quais os dados deste estudo que devem ser destacados?
Sobretudo a prevalência dos comportamentos aditivos nos
nossos jovens. Cerca de 80% dos questionários correspondem a jovens de 12 a 15
anos. Podemos destacar que um em cada cinco jovens já consumiu tabaco na vida,
um em cada dez faz esse consumo de forma regular, um em cada dois já consumiu
álcool em algum momento da sua vida, 40% já se embriagou e 30% dos nossos
jovens já se embriagou no último mês. Relembro que são dados preocupantes
porque estamos a falar da maior parte dos jovens que estão entre os 12 e os 15
anos. Em termos das drogas ilícitas a prevalência de consumo é de 6,3%. A maior
parte desse consumo é canábis, ultrapassa os 5%, ou seja, um em cada 20 jovens
já consumiu, em algum momento, canábis. Quanto à evolução desde 2016 até aqui,
sobretudo nas idades mais precoces, entre os 12 e os 14 anos, consegue-se ver
já um decréscimo ligeiro nos comportamentos.
Quais as recomendações e os desafios para o futuro nesta
matéria?
As recomendações são aquelas que foram evidenciadas,
sobretudo, a introdução de novos elementos como os comportamentos aditivos sem
substância e outros elementos de risco, os estados emocionais e relacionais dos
jovens e, mesmo, a ligação que têm à escola e à aprendizagem, para percebermos
de facto o que é que motiva estes jovens a terem este tipo de comportamentos. O
desafio é a própria realidade em si mesma. Acho que este é o principal desafio.
O Observatório Regional dos Consumos foi criado no ano de
2003/2004 pelo CRI do Alentejo Central, tendo como objetivo a caracterização
das escolas do Alentejo, nos níveis de ensino do 7º, 9º, 10º e 12º anos. Conta
com as parcerias da Universidade de Évora, do Departamento da Saúde Pública da
ex-ARS Alentejo e da Direção Regional da Educação. Tem o envolvimento da
Secretaria Regional da Saúde dos Açores, da Extremadura Espanhola e da Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Alentejo.