Videoconferência ICAD - “Publicidade e jogo a dinheiro”
“Publicidade e jogo a dinheiro” foi o tema da videoconferência ICAD, I.P., realizada a 8 de maio, que contou com 254 participantes.
Os oradores convidados foram: Luís Vasconcelos, licenciado e
mestre em Antropologia Social pelo ISCTE, Lisboa, e doutorado em Ciências pela
Universidade de São Paulo, Brasil. Atualmente, dedica-se ao estudo do jogo
patológico e integra a Unidade de Estatística e Investigação do Departamento de
Investigação, Monitorização e Comunicação no ICAD, I.P.; Margarida Vaz,
licenciada Organização e Gestão de Empresas. Inspetora de jogos há 23 anos,
atualmente dá assessoria à direção do SIRJ - Serviço de Regulação e Inspeção de
Jogos, na área económica, financeira e de auditoria; Pedro Morgado, doutorado
em Medicina pela Universidade do Minho, Professor Associado com Agregação na
Escola de Medicina da Universidade do Minho. É Coordenador Regional de Saúde
Mental do Norte e membro da Coordenação Nacional de Saúde Mental desde janeiro
de 2022. É médico especialista do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Braga e
investigador no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) e
no Centro Clínico Académico 2CA-Braga; e Carla Frazão, assistente social,
trabalha na área dos CAD desde 1996. Atualmente, acumula funções no CRI Lisboa
Ocidental, Polo de Sintra, e na Unidade de Prevenção e Promoção da Saúde, no
Departamento de Intervenção Integrada, do ICAD, I.P.
A moderação esteve a cargo de Alcina Correia, mestre em
Sociologia do Trabalho, das Organizações e do Emprego, formada em Psicologia do
Trabalho, Terapeuta Familiar, atualmente diretora do Departamento de
Investigação, Monitorização e Informação do ICAD, I.P.
Esta videoconferência teve como objetivos promover um
momento de reflexão sobre o tema, melhorar a literacia sobre a publicidade,
origem, influência, impacto, e estratégias de empoderamento dos cidadãos,
sobretudo dos jovens, para inverter os impactos menos desejados.
Manuel Cardoso, vogal do Conselho Diretivo do ICAD, I.P.,
nas boas-vindas referiu três componentes que considera essenciais quando se
aborda o tema desta videoconferência: como a publicidade influencia
comportamentos; os modelos publicitários, sobretudo, os online, digitais e
promovidos por influncers; e a legislação sobre o jogo, que classificou escassa
e enviesada. Defendeu a proibição da publicidade ao jogo, como acontece em
alguns países europeus, e a necessidade de apresentar propostas ao governo sobre
a regulação da publicidade.
Alcina Correia, antes de passar a palavra aos oradores,
enquadrou o tema com os dados epidemiológicos disponíveis dos estudos mais
recentes promovidos ou realizados no ICAD, que permitem uma caracterização dos
jogadores a dinheiro, prevalências, grupos etários, padrões de uso, jogadores
com problemas e jogadores patológicos, e dados de procura de tratamento e
apoio.
Luís Vasconcelos tratou da contextualização histórica geral,
sobre a normalização do jogo e as condições que tornaram possíveis a
publicidade que hoje lhe é dedicada. A diabolização do jogo na transição entre
os séculos XIX e XX; as mudanças que ocorreram até à década de 80, e que
tornaram o jogo mais visível e aceitável; e a normalização do jogo ocorrida a
partir das duas últimas décadas do século passado, foram aspetos que
desenvolveu.
Pedro Morgado abordou a perturbação do jogo e o que diz a
evidência sobre o impacto da publicidade no comportamento do jogo a dinheiro.
Considerando que o jogo não deve ser encarado, necessariamente, como uma
atividade humana negativa, explanou as diferenças entre o jogo problemático e o
jogo patológico. Relativamente a este último, indicou algumas disfunções
cognitivas que este provoca no individuo. Mais publicidade significa mais
participação no jogo, e a nova realidade trazida para a publicidade pelos influencers,
ao tornarem o jogo mais atrativo, especialmente para os jovens entre os 12 e os
16 anos, foram dois dos exemplos que sobre o que a evidência nos traz. Em
termos futuros, defendeu maior acesso ao tratamento das perturbações do jogo e
a necessidade de proteger as políticas e as regulamentações da influência
comercial.
Margarida Vaz apresentou a perspetiva do regulador, no que
diz respeito ao que está estipulado na lei, as permissões e as limitações aos
anunciantes, e os mecanismos de fiscalização existentes. Na referência, mais
desenvolvida, que fez ao artigo 21 da Lei da publicidade, defendeu que o mesmo
é curto e requer uma alteração legislativa até porque o mesmo não engloba o
fenómeno das redes sociais. Depois de afirmar que o problema é o jogo ilegal,
pois não pode ser regulado, afirmou que a taxa de sucesso da regulação no
online é ínfima.
Carla Frazão explanou o desenvolvimento de intervenções
preventivas orientadas para resistir à publicidade, as diferentes fontes da
publicidade e respetivos impactos, e como o ICAD, I.P. e entidades que
trabalham mais na área na redução da procura atuam junto, sobretudo, dos
públicos mais jovens. Começou por considerar que a prevenção nesta área tem
vindo a criar caminhos e defendeu que trabalhar isoladamente a componente
informativa não é eficaz devendo, pelo contrário, ser trabalhada de forma
integrada, em programas e projetos e sobre os quais deu alguns exemplos.
Realçou a importância de treinar os jovens para a atividade crítica e o
trabalho com as famílias.
O ciclo de videoconferências prosseguirá brevemente.
Veja ou reveja, AQUI.