Videoconferência ICAD abordou burnout em profissionais dos comportamentos aditivos e dependências
“Burnout em profissionais dos comportamentos aditivos
e dependências” foi o tema da videoconferência ICAD, I.P., realizada a 27 de
junho, que contou com 183 participantes.
O evento teve como oradores convidados, Rui Tinoco,
psicólogo clínico, doutorado com investigação na área dos CAD, atualmente a
exercer funções na Unidade de Estatística e Investigação (DIMC-ICAD, I.P.),
tendo desenvolvido investigação sobre o burnout em profissionais de
saúde dos comportamentos aditivos e dependências; Cristina Queirós, licenciada
e doutorada em Psicologia, é Professora Associada com Agregação na Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação, da Universidade do Porto, tendo desenvolvido
investigação sobre o stress no trabalho, burnout e trauma em
profissionais de saúde; Isabel Sarmento, assistente social, terapeuta familiar,
membro efetivo da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, exercendo funções
no ICAD, I.P. - CRI Porto Ocidental e na consulta descentralizada de Santo
Tirso; e Vera Lúcia Loureiro Costa Cruz, licenciada em Enfermagem, especialista
em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, enfermeira gestora da Unidade
Desabituação do Norte, Comunidade Terapêutica da Ponte da Pedra e ICAD, I.P. -
Unidade de Alcoologia do Porto. É Membro da Comissão Executiva Permanente da
Direção de Enfermagem do ICAD, I.P.
Manuel Cardoso, médico e vogal do Conselho Diretivo do ICAD,
I.P., teve a seu cargo a moderação deste evento, começando por salientar que a
perspetiva pela qual se deve encarar esta videoconferência é a de que “o
cumprimento da missão de todos os profissionais, acontecerá com profissionais
saudáveis. Se os profissionais não estiverem no seu melhor, provavelmente esta
já é uma área difícil, será muito mais difícil esta intervenção”. Considerou
como objetivos deste evento tentar perceber como estamos para, depois,
tentarmos perceber como poderemos melhorar.
Esta videoconferência começou com um enquadramento, onde
ficou esclarecido que o burnout é um processo que se arrasta e que
prejudica a atividade laboral, o bem-estar próprio, a vida pessoal e familiar,
e que tem implicações grandes, podendo mesmo levar ao suicídio por razões
laborais.
Historicamente, este tema aparece nos anos 70, por um
psiquiatra dos EUA que começou a notar um desgaste emocional nos trabalhadores
da clínica de atendimento a toxicodependentes, que geria. O burnout foi
considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um fenómeno ocupacional, em
maio de 2019, a incluir na classificação internacional de doenças, e que passou
a vigorar a partir de janeiro de 2022, não é uma doença, mas uma síndrome, ou
seja, por vezes o seu diagnóstico é feito por exclusão de partes.
Indicadores da Europa e da OMS, e um lançamento feito em
março de 2022, revelam um aumento do stress, ansiedade e depressão, provocado
pela pandemia sanitária recente.
O momento seguinte incluiu a apresentação do estudo “Burnout
e Envolvimento profissional em profissionais de saúde dos comportamentos
aditivos e dependências na zona norte de Portugal”, cuja recolha dos dados
decorreu entre 25 de setembro e 20 de outubro, de 2023, e teve como objetivo
geral conhecer as diversas dimensões que expressam sofrimento psíquico dos
profissionais, concretamente, conhecer os níveis de burnout em diversas
dimensões, assim como duas classes de sintomatologia que muitas vezes lhe estão
associadas: a ansiedade e a depressão.
Em termos de resultados destaca-se que 49,2% dos
participantes apresentaram níveis moderado ou elevado de Distanciamento Mental
e 30,6% no score global de burnout. Cerca de 30% dos participantes
relatou ter considerado pensamentos de mudança, incluindo mudar de serviço
dentro da área dos CAD, sair da área dos CAD ou mudar de profissão. Além disso,
cerca de um em cada cinco participantes afirmou ter tido atestados por razões
psicológicas ou psiquiátricas nos últimos dois anos. Cerca de 50% dos
participantes apresentaram sinais de perturbação no score de Ansiedade e 37% no
de Depressão. Por outro lado, em termos de envolvimento com o trabalho,
estudado como fator protetor, encontraram-se respetivamente 67% e 47% com
níveis baixos no Vigor e Dedicação.
Implementação de medidas que contribuam para um maior engagement,
satisfação profissional e redução de burnout, auscultados os
interessados e as realidades de cada local; monitorizar e trabalhar medidas
protetoras ao nível de riscos psicossociais e ambientais no trabalho; e criação
de serviço de apoio psicológico a profissionais, com eventual disponibilização
de teleconsultas, estão entre as recomendações apresentadas.
No espaço de comentário que se seguiu foram referidos
fatores que podem contribuir para o burnout, nomeadamente quanto aos
profissionais de serviço social e de enfermagem, e referida a sensibilidade
institucional, existente, para o problema e para o bem-estar dos respetivos
profissionais.
Em termos futuros, ficaram algumas estratégias e desafios,
tais como: continuar a dar voz às pessoas, percebendo quais são os seus motivos
de insatisfação; necessidade de continuar a recuperar dos problemas da pandemia
quanto aos profissionais, à gestão e aos cuidados de saúde; e tentar alargar o
estudo a todo o ICAD, I.P. ou a toda a intervenção.
Veja, ou reveja, a videoconferência gravada, em AQUI.